domingo, 4 de agosto de 2013

Da série: Você já pensou em ser modelo?

 
   Eu estava andando no shopping tranquilamente. Estava tomando um  sorvete de casquinha e, ao mesmo  tempo, escutava músicas pelo meu fone. Quando de repente uma mulher, que andava na direção oposta da minha, segurou o meu braço levemente, quando passou ao meu lado, e disse:
   - Vem cá, você já pensou em ser modelo?
   Eu fiquei meio aturdido com a pergunta. Até pensei que havia escutado errado. Retirei um lado do meu fone - a música que estava tocando era legal - e respondi, ainda estonteado:
   - Ah... sei lá.
   - Não, mais você tem um perfil bem legal. Você podia ser modelo. Como é o seu nome? - nesse momento ela retirou uma agenda e caneta da bolsa.
   - Daniel - respondi.
   Ela anotou.
   - E por quanto tempo você ainda vai ter que usar aparelho? - ela se referia ao aparelho dentário que já uso há alguns anos.
   - Não sei, mas acho que ainda vou ter que usá-lo por bastante tempo.
   - PUTZZZZZ!!!! - nessa hora eu até me assustei. Ela falou em uma entonação, que pareceu que eu havia dito que uso uma perna mecânica,  que uso um olho de vidro, que uso drogas, que sou nazista, ou até mesmo que  gosto de funk. Pareceu o fim de uma carreira que ainda nem havia começado.
   - Pois é - disse, sem saber o que falar e pronto para continuar andando.
   - Não ok, agente dá um jeito.
   Eu fiquei imaginado o que ela poderia fazer para resolver esse empecilho. Será que eu nunca poderia sorrir, nem ao menos falar nos trabalhos que exerceria como modelo? Quando, sei lá, estivesse tirando fotos eu teria que ficar com expressão de está cagando e deixar que pensassem que eu fosse mudo? Meu devaneio foi quebrado quando ela retomou a inusitada entrevista.
   - Mas você vai ter que tirar a barba quando for lá na agência.
   - Precisa mesmo? - nem assinei contrato nem nada, é ela já me exigia mudanças. Ela não havia falando que eu tinha perfil?
   - Precisa sim.
   - Tudo bem - concordei, ainda relutante. Não queria tirar a barba que tanto custa para crescer.
   - Me passa o seu telefone, Dani.
   "Que intimidade" pensei, mas passei o meu telefone de contato.
   - Agora eu preciso tirar uma foto do seu rosto - ela guardou a agenda e a caneta na bolsa, e no lugar, pegou um celular.
   Eu, idiota, deixei. Vai que ela usasse essa foto para um mural de bizarrices do mundo, ou dos jovens mais assustadores do país?
   - Certo, aqui está o cartão da agência e o meu telefone de contato. Te espero lá em.
   Bom, pelo menos dessa vez o olheiro me deu cartão da agência e telefone de contato. Porque há algum tempo, um cara também me convidou para ser modelo. Só que ele parecia mais um maniaco psicopata do que um agenciador.
   - Tudo bem - disse, reparando que eu ainda não havia terminado de tomar o meu sorvete, que por sinal foi caro. -Muito obrigado.


Moral da história: Eu jamais seria modelo. Um, porque meu complexo de inferioridade, que constantemente comento aqui, não me permitiria tamanho estrelato e vaidosismo - embora eu tenha ficado feliz (arrogante) por ter recebido, pela segunda vez, esse tipo de proposta.-  Dois, porque não desejo seguir essa carreira. E três porque tenho quase certeza que a mulher que me abordou  sofria de catarata ou miopia.
 

 

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