domingo, 24 de novembro de 2013

Da Série: A velha, mas não tão velha assim

 
 
   Quando estou sentando no ônibus ou metrô, mesmo se não estiver cansado, eu não saio do meu lugar para fornecê-lo aos outros. Um, porque provavelmente eu lutei por ele. E dois, porque não quero ir em pé. Mas quando os bancos preferencias, TODOS, estão ocupados e vejo algum idoso, ou deficiente, espero para ver se alguém vai levantar. Se eu perceber que ninguém vai tomar a gentileza, levanto, com muito esforço e raiva, mas dou o meu lugar para o necessitado. Só assim, forneço o meu aconchegante e precioso banco.
   Eu estava sentando em um dos bancos do metro, lendo um bom livro - Harry Potter e a Ordem da Fênix, de novo.
   Percebi que uma senhora velha, mais não tão velha assim, entrou. Ela devia ter no máximo uns 55 anos. Ela ficou bem do meu lado, em pé, pois o vagão não estava cheio, porém todos os bancos estavam ocupados.
   Depois de alguns segundos, percebi que a senhora ficou me olhando. Parecia que queria dizer algo.
   Eu fiquei na minha. Continuei lendo o meu livro.
   A velha, mais não tão velha assim, percebeu que eu não estava dando atenção. Então começou a resmungar.
   - Nossa que calor. Meu Deus, ninguém me oferece um lugar...
   Olhei para frente, para dois assentos preferencias, que já estavam ocupados. Contudo um dos usuários era uma moça, jovem que não demostrava ser deficiente e muito menos que estava gravida.
   "Eu não vou fornecer o meu lugar" pensei. "Com aquela moça ali sentada. Se a velha quiser sentar, que vá lá e reclame com ela".
   - Nossa que povo folgado. Sem educação e respeito aos mais velhos. Eu mesma...
   A velha, mais não tão velha assim, continuava a reclamar, porém ela olhava para mim. Como se aquela oratório e insultos fossem direcionadas para mim.
   Eu baixei a cabeça, e continuei a minha leitura.
   A senhora, provavelmente insatisfeita com o desprezo que dei à suas palavras, começou a me cutucar com o seu guarda chuva. Me deu três cutucadas seguidas.
   Parei de ler, olhei para ela, pensei em dizer algo, mas decidi me calar.
   A iminente idosa, satisfeita em ver que conseguiu minha atenção, me deu novas três futucadas.
   Não resisti. Pousei o meu livro, olhei para a senhora e com educação disse:
   - Senhora, você está me cutucando com o seu guarda-chuva.
   - Sim estou - reconheceu a senhora, com aspereza. - Só assim pra conseguir sua atenção. Você podia muito bem fornecer o seu lugar.
   - Eu? - estranhei, inesperado com a atitude da senhora.
   - Sim, você. Você podia deixar de ser preguiçoso e levantar daí.
   - E porque eu faria isso? - eu estava começando a ficar envergonhado, porque os mais achegados, estavam ouvindo, mas mantive a calma sem demostrar displicência.
   - Porque eu tenho preferência seu moleque. Olha pra minha idade.
   - Preferência? Me desculpa, mas eu não tenho culpa de você ser uma velh...idosa - remedei. - E além do mais - nessa hora apontei para os bancos preferencias - os lugares preferencias são aqueles ali. Eu não tenho obrigação nenhuma de te fornecer esse banco.
   - Haaaa mais como você é petulante meu filho -a velha, mais não tão velha assim, estava visivelmente irritada.
   - Eu sou petulante? A senhora que é ranzinza.
   - Deixa, deixa, não quero mais sentar não. Obrigada por sua gentileza - obviamente ela estava sendo irônica. - Tenho muito mais disposição é vitalidade do que você, que ainda é jovem.
   - Se você realmente fosse tão disposta assim, não estaria brigando por um banco - rebati.
   A senhora me olhou com ódio mortal. Pensei que tentaria perfurar a minha cabeça com aquele guarda-chuva. No instante seguinte, ela disse, com a voz mais calma.
    - Meu filho, um rapaz tão bonito como você, falando isso pra mim.
   - Sério que você me acha bonito? É éé quer dizer, senhora eu não quis te ofender, só acho injusto eu ter que dar o meu lugar. - e novamente apontei para os bancos à minha frente.
    A velha, mais não tão velha assim, olhou para os bancos preferenciais. Viu a moça que estava sentada lá. Eu jurava que a jovem, ao contemplar a discussão, deduziria que no final sobraria pra ela, e fingiria estar dormindo. Porém, a burra, ficou olhando todo o bate boca, e não pode fazer nada. Quando a quase idosa se encaminhou para ela, a jovem nem fez questão, e se levantou, colocando, enfim, um ponto final na discussão.


Moral da história. A velha era velha, mas não tão velha assim.
 
 

2 comentários:

  1. Uma vez uma senhora também discutiu comigo no ônibus por causa de um banco. Muito bom o Texto.

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